segunda-feira, 30 de julho de 2012

Programa Crack, é possível vencer

Programa Crack, é possível vencer tem ações em oito estados


O programa do governo federal Crack, é Possível Vencer já recebeu adesão de oito estados: Alagoas, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Acre, Santa Catarina e Espírito Santo.
Até 2014, Alagoas receberá R$ 37 milhões, já Pernambuco R$ 85 milhões. O estado do Rio de Janeiro receberá R$ 240 milhões, o Rio Grande do Sul R$ 103 milhões. Minas Gerais terá R$ 476 milhões, o Acre terá, até 2014, R$ 13,3 milhões e Santa Catarina receberá R$ 56 milhões da União. O Espírito Santo receberá R$ 9,85 milhões. Estão em fase de pactuação técnica para futura adesão o Distrito Federal e a Bahia. A Paraíba se prepara para a pactuação.
Lançado em dezembro de 2011, o programa Crack, é possível vencer abrange um conjunto de ações interministeriais para enfrentar o crack e outras drogas. Com investimento de R$ 4 bilhões da União até 2014 e articulação com estados, Distrito Federal e municípios, além da participação da sociedade civil, tem o objetivo de aumentar a oferta de tratamento de saúde e atenção aos usuários drogas, enfrentar o tráfico e as organizações criminosas e ampliar atividades de prevenção.  
As ações estão estruturadas em três eixos: cuidado, autoridade e prevenção. O programa Crack, é Possível Vencer conta com a atuação direta dos ministérios da Justiça, da Saúde e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, além da Casa Civil e da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
Um serviço telefônico - Viva Voz 132 - também foi criado para oferecer atendimento gratuito à população sobre o tema. O canal de comunicação é mantido pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça (Senad/MJ) e funciona 24 horas.

Fonte:  http://www.brasil.gov.br - 19/07/2012 20:00 - Portal Brasil

sexta-feira, 13 de julho de 2012

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Entrevista com Marcelo Ribeiro de Araújo - mestre e doutor em Psiquiatria pela Universidade Federal de São Paulo

Crack: uma questão de saúde pública. Entrevista especial com Marcelo Ribeiro de Araújo

“O crack já se interiorizou. Hoje, 98% das cidades convivem com esse problema”, informa o psiquiatra.
Confira a entrevista. 
Os investimentos em políticas públicas de enfrentamento ao crack são recentes, iniciaram nos anos 2000, e esse é um dos motivos da desarticulação no tratamento dos dependentes químicos. "O preconceito em relação ao tratamento", segundo Marcelo Ribeiro de Araújo, também contribui para a desarticulação, " porque ainda existem pessoas que acham que ‘passar a borracha’ nos usuários  é a melhor solução” para acabar com as drogas.

Para ele, o desafio em relação ao tratamento dos usuários de crack é tratar o caso como um problema de saúde pública. Nesse sentido, avalia, os Centros de Atenção Psicossocial-Álcool e Drogas (Caps-AD) representam um avanço, “mas os profissionais ainda não receberam toda a capacitação que poderiam ter recebido”. E dispara: “O grande problema é que as pessoas colocam a responsabilidade toda no Caps, mas ele não consegue resolver o problema da dependência química. Alguns pacientes se beneficiam com o Caps e outros não. Têm pacientes que precisam, por exemplo, de uma moradia assistida, que é um intermediário, e isso ainda não existe no Brasil”.

Em entrevista concedida à IHU On-Line por telefone, Araújo diz que o consumo do crack está associado a situações de violência e abuso. Nesse sentido, argumenta, “retirar os viciados da cracolândia não vai resolver o problema da dependência. É preciso oferecer serviços para esses indivíduos, associados a outras medidas, como a de saneamento, por exemplo. Ao encarar a cracolândia como uma área de traficantes e apenas querer limpar o espaço, se corre o risco de piorar a situação daqueles que estão seriamente dependentes do crack”.

Marcelo Ribeiro de Araújo é mestre e doutor em Psiquiatria pela Universidade Federal de São Paulo – Unifesp. Atualmente é diretor de ensino da Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas da mesma universidade e autor do livro O Tratamento do Usuário do Crack (editora Artmed).

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Hoje as campanhas de combate as drogas focam muito no consumo de crack. Por quê? Essa é a droga mais utilizada e a que causa maior dependência?  

Marcelo Ribeiro de Araújo – Sim. O crack é uma droga que de fato desorganiza os usuários, porque eles ficam muito dependentes e desestruturados. Os usuários de crack também são os que mais buscam tratamento, ou são levados a buscar pela família ou por outras pessoas. O crack é uma droga que impacta, e é usada em grupos, em locais abandonados, e tudo isso atrai a atenção dos usuários.

IHU On-Line - Quais são os principais efeitos do crack sobre o psiquismo do sujeito?

Marcelo Ribeiro de Araújo - O crack é a cocaína na sua apresentação para ser fumada. Então, nesse sentido, farmacologicamente, ele é a cocaína. A cocaína é um estimulante do sistema nervoso que, quando utilizada, provoca um quadro de euforia e de bem estar, que é o que as pessoas buscam inicialmente, juntamente com um quadro de aumento da alerta, inquietação, aceleração psicomotora, aumento dos batimentos cardíacos. Isso tudo acompanha a intoxicação por essa substância.

A diferença entre ela e a cocaína cheirada é que a cocaína fumada (crack) atinge os pulmões, e uma grande quantidade de cocaína entra de uma vez só no corpo, atingindo rapidamente o cérebro. De cinco a oito segundos, a cocaína entra pelos pulmões, passa pelo coração e chega no cérebro. Então, o crack produz um efeito intenso e rápido, causando maior dependência.

IHU On-Line - Desde quando o Brasil investe em políticas públicas de enfrentamento ao crack e quais são as políticas existentes para tratar os dependentes?

Marcelo Ribeiro de Araújo - As políticas públicas são muito recentes e realizadas pelo governo federal, governos estaduais e municipais, de uma maneira que poderia ser melhor integrada. Para você ter uma ideia, até 2003 não havia serviços para tratamentos específicos ambulatoriais para dependência química. Havia apenas seis serviços: três em São Paulo, um na Bahia, um no Rio e um em Porto Alegre.

IHU On-Line - Como é realizado o tratamento de dependentes químicos no Centros de Atenção Psicossocial-Álcool e Drogas (Caps-AD)?

Marcelo Ribeiro de Araújo - Quando um tratamento começa, avaliamos qual é a estrutura química, física e social do paciente. A partir daí, escolhemos as opções que melhor atenderão as necessidades dele. Esse é o conceito atual. Então, é feita uma avaliação das necessidades e a partir disso, tentamos começar o tratamento com uma proposta terapêutica, onde são considerados os ambientes que temos à disposição (podem ser os ambulatórios, podem ser as clínicas, as comunidades terapêuticas, os hospitais). É escolhido o melhor ambiente, pensado na equipe de profissionais disponível para ajudar esse paciente e nas estruturas de apoio sociais – se o dependente químico tem filhos, procuramos uma creche para a criança, por exemplo. Portanto, algumas decisões são clínicas e outras, sociais.

Os profissionais que atuam com os dependentes são o que chamamos de gerentes de caso, porque ficam junto com o paciente, próximo do dia a dia dele, e além do tratamento psicológico, ajudam e monitoram outras questões da vida social.

IHU On-Line – E como acontece isso na prática? O Brasil está preparado para esse modelo de tratamento?

Marcelo Ribeiro de Araújo - A partir dos anos 1980 e 1990, foram fechadas todas as clínicas de internação. Havia vários manicômios velhos, cheios de ratos, onde as pessoas ficavam completamente abandonadas. O problema é que após fecharmos os manicômios, não colocamos nenhum modelo de internação no lugar, e algumas pessoas precisam ser internadas. Algumas vezes, não sempre, é bom começar o tratamento por uma desintoxicação de um mês. Tem pessoas que ficam muito comprometidas socialmente porque desistem de uma internação em comunidade terapêutica.

Têm pacientes que se beneficiam do Caps, mas este é um tratamento que requer uma estrutura do dependente, pois ele precisa marcar a consulta, e ir às reconsultas. Esse é um tratamento para alguém que já está conseguindo se estruturar melhor. Atualmente, existem Caps nas capitais e nas cidades médias ou naquelas que possuem Universidades Federais, Estaduais. Ainda falta integrar melhor o Caps com o tratamento informal.

IHU On-Line - Como o senhor avalia o desempenho dos Centros de Atenção Psicossocial-Álcool e Drogas (Caps-AD)?

Marcelo Ribeiro de Araújo - A adaptação, às vezes, fica prejudicada porque como poucas pessoas trabalham com o tema no Brasil e não há muitos locais para se capacitar. Os profissionais ainda não receberam toda a capacitação que poderiam ter recebido. O grande problema é que as pessoas colocam a responsabilidade toda no Caps, mas ele não consegue resolver o problema da dependência química. Alguns pacientes se beneficiam com o Caps e outros não. Têm pacientes que precisam, por exemplo, de uma moradia assistida, que é um intermediário, e isso ainda não existe no Brasil.

Antes dos anos 1990, não tinha política nenhuma, o que surgiu no governo Fernando Henrique Cardoso foi uma grande carta de intenções, que se preocupava mais com a repressão do que em estruturar uma rede de tratamento para os dependentes químicos. Mas esse era o momento histórico. Foi desenvolvido um trabalho de colocar no papel tudo o que entendíamos por dependência, doença, mas a política de enfrentamento para o crack veio aparecer agora. Depois que a Dilma assumiu, ela fez o plano de enfrentamento e as propostas são válidas. Ela está pensando em diversificar a rede, e capacitar os profissionais. A ideia que está no papel é boa.

IHU On-Line - Alguns especialistas alegam que a desarticulação entre as políticas de segurança, saúde e assistência social tem prejudicado o tratamento de dependentes em crack. O senhor concorda? Quais são as razões desta desarticulação entre as políticas públicas?

Marcelo Ribeiro de Araújo – O motivo desta desarticulação é porque o país investe em política pública nessa área há pouquíssimo tempo. Então, as pessoas ainda estão “batendo a cabeça”. A falta de articulação também esbarra no preconceito em relação ao tratamento, porque ainda existem pessoas que acham que “passar a borracha” nos usuários de droga é a melhor solução. Essa é uma mentalidade da cultura dos indivíduos. Está no imaginário das pessoas essa concepção de que o dependente químico é um drogado e que não há problema em tratá-lo com violência. As pessoas, às vezes, acabam agindo de uma maneira equivocada.

IHU On-Line - Quais os desafios de tratar a dependência química como um problema de saúde pública e não como uma questão de segurança?

Marcelo Ribeiro de Araújo – O grande desafio é possuirmos ambientes e capacitação, além de ter a oportunidade de influir nos momentos em que se definem as políticas públicas. É uma questão de encarar o crack como uma questão de saúde pública. Retirar os viciados da cracolândia não vai resolver o problema da dependência. É preciso oferecer serviços para esses indivíduos, associados a outras medidas, como a de saneamento, por exemplo. Ao encarar a cracolândia como uma área de traficantes e apenas querer limpar o espaço, se corre o risco de piorar a situação daqueles que estão seriamente dependentes do crack.

IHU On-Line - Considerando as pesquisas que o senhor realiza na universidade e o contato que tem com dependentes, diria que houve uma evolução no tratamento com dependentes químicos nos últimos anos?

Marcelo Ribeiro de Araújo – Com certeza. Evoluímos bastante. Fiz um mapa sob como o crac foi evoluindo no Brasil nesses 23 anos e percebi que quando o tema entrou em pauta, nós, pesquisadores, se quer publicávamos sobre o tema – ficávamos fazendo revisão de artigos. Hoje, pelo contrário, temos muitos profissionais pesquisando sobre o assunto, vários serviços de assistência aos dependentes químicos. Nós avançamos muito em pesquisa e nos tratamentos, só que infelizmente ainda estamos no começo. Essa é a principal questão.

IHU On-Line - Como o uso de crack evoluiu nesses 23 anos? O perfil dos consumidores também mudou?

Marcelo Ribeiro de Araújo – O crack ainda continua sendo uma droga de pessoas de classe baixa e que têm baixa escolaridade. A classe média também consome, mas está longe de ser o grande consumidor. Os usuários são pobres, com histórico de violência e abuso. Nesse período, houve de fato uma disseminação do crack pelas grandes cidades: São Paulo, Porto Alegre, o restante do Sul, Belo Horizonte e depois a droga foi sendo espalhada para o Rio de Janeiro e Nordeste. O crack já se interiorizou. Hoje, 98% das cidades convivem com esse problema. Em municípios de 10 mil habitantes, até os bóias-frias fumam a droga.

terça-feira, 10 de julho de 2012

CRACK - Composição e ação no organismo

Composição química

O crack é obtido a partir da mistura da pasta-base de coca ou cocaína refinada (feita com folhas da planta Erythroxylum coca), com bicarbonato de sódio e água. Quando aquecido a mais de 100ºC, o composto passa por um processo de decantação, em que as substâncias líquidas e sólidas são separadas. O resfriamento da porção sólida gera a pedra de crack, que concentra os princípios ativos da cocaína.
Segundo o químico e perito criminal da Polícia Federal (PF) Adriano Maldaner o nome ‘crack’ vem do barulho que as pedras fazem ao serem queimadas durante o uso. “A diferença entre a cocaína em pó e o crack é apenas a forma de uso, mas o princípio ativo é o mesmo”, afirma Maldaner.
Por ser produzido de maneira clandestina e sem qualquer tipo de controle, há diferença no nível de pureza do crack, que também pode conter outros tipos de substâncias tóxicas - cal, cimento, querosene, ácido sulfúrico, acetona, amônia e soda cáustica são comuns. “A pureza vai depender do valor pago na matéria-prima pelo produtor. Se a cocaína for cara, é misturada com outras substâncias, para render mais. Se for de uma qualidade inferior, pouca coisa ou nada é adicionado”, diz Maldaner.

Forma de uso e ação no organismo

O crack geralmente é fumado com cachimbos improvisados, feitos de latas de alumínio e tubos de PVC (policloreto de vinila), que permitem a aspiração de grande quantidade de fumaça. A pedra, geralmente com menos de 1 grama, também pode ser quebrada em pequenos pedaços e misturada a cigarros de tabaco ou maconha – o chamado mesclado, pitico ou basuco. “Ao aquecer a pedra, ela se funde e vira gás, que depois de inalado é absorvido pelos alvéolos pulmonares e chega rapidamente à corrente sanguínea”, conta Maldaner. Enquanto a cocaína em pó leva cerca 15 minutos para chegar ao cérebro e fazer efeito depois de aspirada, a chegada do crack ao sistema nervoso central é quase imediata: de 8 a 15 segundos, em média. É por esta razão que o crack pode ocasionar dependência mais rapidamente.
A ação do crack no cérebro dura entre cinco e dez minutos, período em que é potencializada a liberação de neurotransmissores como dopamina, serotonina e noradrenalina. “O efeito imediato inclui sintomas como euforia, agitação, sensação de prazer, irritabilidade, alterações da percepção e do pensamento, assim como alterações cardiovasculares e motoras, como taquicardia e tremores”, explica o psiquiatra Felix Kessler, do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Fonte: site Crack, é possível vencer