Profissionais especializados em número reduzido, falta de leitos em hospital geral, inexistência de plantão psiquiátrico 24 horas, estrutura deficitária de atendimento imediato e ausência de opções de ressocialização foram alguns dos problemas detectados em Pelotas pela Subcomissão contra o Crack. A terceira audiência pública da subcomissão lotou o plenário da Câmara Municipal de Pelotas na tarde da última sexta-feira, 17.
Depoimentos de representantes de instituições de saúde, entidades e organizações sociais e comunitárias, além de vereadores e integrantes do grupo Mães contra o Crack, descreveram o quadro da incidência da dependência química em Pelotas e região. O início da audiência foi marcado por relatos emocionados de situações de desespero, perdas e angústias de quem não consegue ter acesso a serviços de saúde na medida da necessidade recorrente que caracteriza a drogadição.
Elaine Jung, integrante do grupo pelotense Mães contra o Crack, narrou a convivência com o filho Fábio, de 23 anos, atualmente detido no Presídio de Rio Grande. “Ele está doente, não tem mais de 40 quilos, e não há médicos para tratá-lo no presídio”, protestou. Vani Camacho, mãe de Anderson, 23 anos, vive situação semelhante. O filho apresenta quadro de depressão e não consegue terminar o tratamento por falta de profissionais para o atendimento quando há recaídas ou quando precisa reforçar a medicação. “Não compro mais rancho, tudo é vendido ou trocado pela pedra”, contou Ângela Maria, mãe de dois dependentes químicos.
Recordes - A situação da Brigada Militar diante do quadro de avanço do crack foi abordado pelo comandante do CRPO-Sul, coronel Flávio da Silva Lopes. “Todos os meses batemos recordes de prisões por tráfico, mas não nos orgulhamos disto. Não é com bastão, nem com armas que combateremos esse problema”, argumentou. A coordenadora da 3ª Coordenadoria Regional de Saúde, Lusiana de Lima Larrossa, garantiu que a luta da comunidade está repercutindo na reestruturação da rede de atendimento, por meio do mapeamento das necessidades e do diagnóstico apurado da situação da saúde pública voltada à questão da dependência.
No âmbito do município, a coordenadora do Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas (Caps-AD) e do Departamento de Saúde Mental da Secretaria de Saúde de Pelotas, Gabriela Haack, fez um apelo à união dos segmentos para a obtenção de melhorias no atendimento. ”O serviço do Caps é um grão de areia perto do tamanho que está a questão da dependência química”, afirmou. Ainda na área da saúde, a representante da Faculdade de Enfermagem da UFPel, Beatriz Franchini, divulgou iniciativas do meio acadêmico para capacitar o atendimento específico para os dependentes químicos, como cursos de especialização em Saúde Mental que se iniciam em breve. “No geral, os pacientes são atendidos incorretamente, por que falta esta capacitação e este trato diferenciado”, avaliou.
Flagelo - A relatora e proponente da subcomissão, deputada Miriam Marroni (PT), defendeu a abertura de leitos em hospital geral e a implantação de plantão psiquiátrico 24 horas, “já que a crise de abstinência não tem momento para marcar o ponto”. “Esse trabalho tem de ser feito por equipes multidisciplinares. Do jeito como está não daremos conta deste flagelo, a situação se repete, as unidades de atendimento clamam por estrutura”, registrou. Já o deputado Marlon Santos (PDT), integrante da subcomissão, ponderou que “o poder público não está preparado para enfrentar o problema da drogadição, que só alcançou a dimensão atual por culpa da inoperância e atraso das políticas públicas e do descaso com a questão”. A deputada Zila Breitenbach (PSDB), que integra a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, afirmou que o trabalho contra as drogas não é partidário, “não é um trabalho de voto, é um trabalho de cidadania, supera divergências políticas e partidárias”.
A audiência pública contou com a participação de vereadores de Pelotas, São Lourenço do Sul e Santa Vitória do Palmar e representantes dos deputados federal Fernando Marroni (PT) e estadual Catarina Paladini (PSB), da Prefeitura de Herval, da UFPel, UCPel, IFSul, OAB-subsecção Pelotas, Ajuris, Conselho Municipal de Saúde de Pelotas, Arquidiocese de Pelotas, instituições de saúde, conselhos tutelares, escolas estaduais e comunidades terapêuticas.
A próxima audiência ocorre em 1° de julho, em Santa Rosa. O calendário abrange ainda Santa Maria, em 8 de julho, Cachoeira do Sul, dia 15 de julho, Porto Alegre, em 5 de agosto, Caxias do Sul, em 12 de agosto, e Rio Grande, ainda sem data definida. Além de Miriam Marroni e Marlos Santos, compõe a subcomissão o deputado Luciano Azevedo (PPS).